quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Analisando Sonic - O Filme

Após vários adiamentos por ter que refazer o visual do Ouriço Azul, seu filme acabou de estrear no Brasil. Nós estivemos na Cabine de Imprensa para assistir, e trazemos a vocês nossas impressões:  



Deixando de lado a novela que todo mundo já conhece envolvendo a primeira versão "horrorível" do Sonic em animação CG, os meses de atraso para poder desenvolver um novo personagem e animar todas as cenas, vamos direto a pergunta que muitos já me fizeram desde quando voltei da Cabine: o filme é bom? 

Sim, é bom, é engraçado e também muito divertido de ver se você for ao cinema sem cobranças no coração. Explicando:

O Filme não é muito longo: são 99 minutos de duração com o Sonic correndo e pulando por todos os cantos da tela, fazendo jus a sua fama de o ouriço mais veloz do mundo. Ele não para quieto e nem perde uma chance de fazer piadas, trocadilhos e tudo o mais que qualquer um que jogou seus primeiros videogames vai com certeza identificar. No filme ele fala, e fala muito, mas isso é o que aconteceria a alguém vivendo isolado e escondido numa floresta. Mas sem spoilers para não estragar a surpresa de quem pretende assistir. Então vamos a uma análise mais técnica.



Esta segunda versão em CG do Sonic funciona muito bem e não tenta enganar fingindo ser "real". É um personagem de videogame em versão tridimensional com todos os seus movimentos, expressões e interações com personagens de carne e osso deixando bem claro que não pretende em momento algum ser "de verdade". Considero um ponto positivo, pois o espectador já percebe isso logo no primeiro minuto e pode relaxar na poltrona do cinema sabendo que vai assistir uma aventura de fantasia e pitadas de ficção científica sem nenhuma pretensão de ser ultra-realístico nem concorrer a um Oscar. Este filme foi criado almejando poucos objetivos: divertir os fãs mais velhos do Sonic emulando todos os movimentos, pulos e golpes existentes nos videogames da franquia e entreter a gurizada de dez anos para baixo com uma história fácil de entender.



É difícil encontrar um ponto de equilíbrio para agradar dois públicos de idades tão diferentes, e talvez aí esteja o maior problema. A história fica um tanto forçada e tem furos óbvios de continuidade e lógica - não muitos, mas estão lá. Crianças nem perceberão e vão aplaudir, mas quem jogou o primeiro Sonic no Mega Drive em 1991 com certeza vai notar e nem precisa ser do tipo "cata-piolho". Fica óbvio que a Paramount deixou propositalmente o filme mais "infantilizado" para não ter que contar só com a ida dos fãs do videogame aos cinemas. Uma decisão comercial acertada, mesmo com a franquia de jogos do Sonic tendo acumulado quase 98 milhões de cópias vendidas, somadas todas as versões lançadas (os jogos da série Mario & Sonic não contam, mas venderam quase 23 milhões de cópias). 




Então, por mais que doa aos fãs da geração Mega Drive e que irão ao cinema para assistir com seus filhos, a verdade é: este filme não foi feito APENAS para vocês. Então nem comecem a cobrar "fidelidade" total aos videogames porque não era esse o objetivo. Lembrando, este filme só quer te divertir com uma história simples, porém cheia de cenas engraçadas do Sonic como se fossem uma sucessão de tirinhas de jornal. Aliás, dá até a impressão que cada cena com ele foi planejada para ser uma historinha fechada em si, sem ligação com a trama principal, o que em nada diminui a graça delas.




Mas agora falemos um pouco dos atores de carne e osso. Primeiro, nota-se que foi uma produção caprichada no quesito de montagem, pois quando o Sonic interage com pessoas é muito fácil esquecer que quando filmaram as cenas com os atores ele não estava lá, com o ouriço azulão sendo "aplicado" depois. Está sem dúvidas um trabalho muito bem feito e todos os atores merecem um parabéns por atuar conversando e interagindo com o nada. 
Mas James Marsden, apesar de ser o ator com mais falas e participação em todo o filme, é apenas um personagem de suporte onde o Sonic se apoia para fazer suas cenas, falas e piadas. E Tika Sumpter é o apoio do James para os poucos momentos em que os dois interagem no filme. Ambos fazem suas interpretações de maneira competente, e só. Afinal, o "ator" que precisa brilhar é o Sonic em primeiro e o Doutor Robotnik em segundo.




E sobre a interpretação de Jim Carrey como Doutor Robotnik, o arquiinimigo de Sonic, precisamos falar mais do que algumas linhas: ele está ótimo, divertido, carismático, cheio de caretas e... bem Jim Carrey! Ele realmente se esforçou para fazer o papel do cientista louco, egocêntrico e psicótico que todos vão adorar odiar! Jim fez questão de interpretar agindo da maneira mais malvada e antissocial possível, deixando o seu Robotnik muito próximo a imagem que todos temos dele nos videogames. Devemos agradecer a Paramount pela ideia de contratá-lo. Ninguém mais além de Jim, o rei das caretas e caricaturas vivas, poderia dar tanta substância a um vilão tão básico e... caricato!




Muito me alegra ver o quanto queimaram a língua (e os dedos) todos os que ficaram "hateando" o Jim  porque "não parecia nada com o Robotinik dos jogos". Ele não precisou engordar cem quilos para fazer uma ótima interpretação.  Se você é fã deste incrível ator e não está nem aí para o Sonic, pode ir alegremente ver o filme que o ingresso ainda vai valer. Não há nada melhor do que ver Jim Carrey sendo Jim Carrey, e ainda com uma cena dançando ao som de "Where the Evil Grows" (música de 1971, do Pop Family. Não é do seu tempo, jogador de Mega Drive!).    




Enfim, se você vai ao cinema de coração aberto e sem nenhuma intenção de cobrar "perfeição" e "fidelidade" aos videogames, com certeza irás se divertir com Sonic - O Filme. É pipoca pura e inocente, faz valer o preço do ingresso.

E tem o Jim Carrey!


   

Agradecimentos ao Luiz Felipe por me indicar para a Cabine, ao Azzis Netto pela ajuda para achar o nome da música "Where the Evil Grows", ao Januncio Neto e Pablo Gouveia pela ajuda na revisão e avaliação.